Apesar do enorme sucesso global da adaptação em anime de Solo Leveling, o estúdio responsável pela produção, A-1 Pictures, fechou o ano fiscal de 2025 com um prejuízo líquido de aproximadamente US$ 1,24 milhão (cerca de ¥178 milhões). A informação foi divulgada oficialmente na edição de 30 de junho do Diário Oficial do Japão (Kanpō) e representa uma reversão preocupante em relação ao desempenho do ano anterior, quando o estúdio havia reportado um lucro de US$ 168 mil (cerca de ¥24 milhões).
Esse resultado surpreende parte do público e da indústria, especialmente considerando que Solo Leveling foi confirmado recentemente como o anime mais assistido da história da Crunchyroll, evidenciando uma recepção calorosa tanto no Japão quanto internacionalmente. A expectativa, portanto, era de que o estúdio estivesse em um momento de estabilidade ou até mesmo crescimento. Contudo, os números revelam um cenário mais delicado.
O A-1 Pictures é um estúdio de animação japonês de renome, fundado em 2005 e hoje operando como uma subsidiária direta da Aniplex Inc., empresa ligada ao conglomerado Sony Music Entertainment Japan. Ao longo do ano fiscal analisado (encerrado em março de 2025), o estúdio esteve envolvido na produção ou lançamento dos seguintes títulos:
Too Many Losing Heroines!
NieR:Automata Ver1.1a (segunda parte)
Sword Art Online Alternative: Gun Gale Online II
Solo Leveling Season 2 – Arise from the Shadow
Goddess of Victory: NIKKE – OLD TALES (animação especial)
Apesar da variedade de produções e do destaque internacional de algumas delas, o estúdio não conseguiu manter sua rentabilidade no período. A ausência de explicações no relatório financeiro publicado no Diário Oficial deixa em aberto as causas exatas do prejuízo.
O balanço patrimonial da A-1 Pictures revelou os seguintes dados:
Ativos totais: ¥2,7 bilhões (aproximadamente US$ 18,9 milhões)
Passivos (dívidas e obrigações): ¥2,02 bilhões (aproximadamente US$ 14,1 milhões)
Patrimônio líquido: ¥676 milhões (aproximadamente US$ 4,7 milhões)
Com esses valores, o estúdio demonstrou estar operando com grande alavancagem financeira, ou seja, com passivos muito próximos do total de seus ativos. Esse desequilíbrio pode indicar que o estúdio está utilizando empréstimos ou dívidas para financiar seus projetos — uma estratégia comum na indústria de animação, mas que pode se tornar arriscada quando os lucros esperados não se concretizam no curto prazo.
A Aniplex, empresa-mãe da A-1 Pictures, também enfrentou um cenário misto no mesmo período. De acordo com o relatório, a receita total caiu 5,4% ano a ano, totalizando ¥72,4 bilhões (aproximadamente US$ 507 milhões). Em contrapartida, o lucro operacional aumentou em 2,4%, atingindo ¥8,74 bilhões (cerca de US$ 61,2 milhões).
Essa aparente contradição se explica pela queda geral no desempenho das áreas de anime e jogos, segmentos centrais das operações da Aniplex. A empresa ainda não se manifestou publicamente sobre os resultados negativos da A-1 Pictures, o que levanta especulações sobre possíveis reestruturações ou cortes de custos nos estúdios sob seu guarda-chuva.
Embora Solo Leveling tenha alcançado enorme popularidade, os custos de produção de um anime desse porte são extremamente altos. O uso intenso de animação digital, efeitos visuais elaborados, trilhas sonoras orquestradas e contratação de talentos de primeira linha tornam o processo de produção cada vez mais caro.
Além disso, os lucros obtidos com o anime nem sempre retornam diretamente para o estúdio responsável. Em muitos casos, os ganhos com streaming, vendas de blu-ray, produtos licenciados e eventos são distribuídos entre diversas empresas envolvidas no comitê de produção (production committee), modelo comum na indústria japonesa. Ou seja, mesmo que um anime seja um sucesso comercial, o estúdio de animação pode ficar com uma pequena fatia dos lucros.
Outro fator relevante pode ser o atraso ou adiamento de projetos, como aconteceu com a segunda parte de NieR:Automata Ver1.1a, que sofreu interrupções por problemas de produção e pode ter impactado a linha de receitas do estúdio durante o ano fiscal.
Apesar das dificuldades financeiras, a A-1 Pictures e sua controladora Aniplex continuam apostando em inovação e diversificação. Em julho de 2025, o estúdio anunciou a criação de um novo selo de animação interno chamado Psyde Kick Studio. Segundo o comunicado oficial, o objetivo da nova unidade é “buscar uma expressão mais livre e original, com base no conhecimento e na experiência adquiridos pela A-1 Pictures até agora”.
Além disso, a Sony Music Entertainment Japan, por meio do presidente Shunsuke Muramatsu, revelou recentemente que a empresa está desenvolvendo tecnologias de coloração com inteligência artificial (IA) para uso em animações, em parceria com seus estúdios subsidiários. Essa medida visa reduzir custos operacionais e acelerar os processos de produção, oferecendo uma alternativa ao modelo tradicional de trabalho manual, muitas vezes criticado por condições de trabalho precárias.
Esses investimentos mostram que, mesmo diante de um ano difícil, a A-1 Pictures está planejando a longo prazo, apostando em novas formas de produção e identidade criativa para se reposicionar no mercado.
Mesmo com os desafios, a franquia Solo Leveling continua sendo um ativo valioso para o estúdio. A segunda temporada, intitulada Arise from the Shadow, já está em produção, e a expectativa de audiência é altíssima. Com a base de fãs consolidada globalmente, é possível que os resultados financeiros futuros sejam mais positivos, caso o estúdio consiga negociar melhor sua participação nos lucros ou reduzir seus custos de produção com as novas tecnologias que vêm sendo testadas.
O sucesso de outras franquias do estúdio, como Sword Art Online e NieR:Automata, também pode contribuir para um possível retorno à lucratividade em 2026, desde que haja planejamento estratégico e controle orçamentário eficiente.
O prejuízo registrado pela A-1 Pictures no ano fiscal de 2025, mesmo diante do estrondoso sucesso de Solo Leveling, evidencia uma dura realidade da indústria de animação japonesa: popularidade nem sempre se traduz em lucro direto para os estúdios. O modelo de produção fragmentado, os altos custos operacionais e a dependência de comitês que diluem os lucros são obstáculos enfrentados até mesmo pelos estúdios mais renomados.
Entretanto, o estúdio demonstra resiliência e visão estratégica, investindo em inovação tecnológica e criando novos espaços criativos, como o Psyde Kick Studio, para diversificar sua produção e encontrar novos caminhos de sustentabilidade. Com o apoio da Aniplex e da Sony, e com franquias fortes em mãos, a A-1 Pictures ainda tem potencial para reverter esse cenário.
Os próximos anos serão decisivos para o estúdio, que precisará equilibrar ousadia criativa com disciplina financeira para manter sua relevância em um mercado cada vez mais competitivo. Se conseguir unir esses elementos, a A-1 Pictures não apenas superará o prejuízo atual, como poderá redefinir os rumos da animação japonesa na era da tecnologia e do streaming global.
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