A renomada autora Asumiko Nakamura encerrará oficialmente sua obra Tales of the Kingdom (Ōkoku Monogatari) no próximo capítulo, que será publicado na edição de dezembro da revista Ultra Jump, da editora Shueisha. A data final está marcada para o dia 19 de novembro de 2025, conforme anunciado na edição de agosto da revista.
Após oito anos de publicação, o mangá que encantou leitores com sua estética refinada, ambientação etérea e personagens profundamente simbólicos se despede dos fãs com a promessa de um desfecho à altura da sua construção narrativa única.
A série, que mistura fantasia, drama e relações humanas com um toque poético, é descrita pela editora Yen Press, responsável pela publicação em inglês, da seguinte forma:
"Adarte, de olhos púrpura, e Adolte, de olhos azuis. Um envolto em luz — o gracioso filho; o outro mergulhado nas trevas — o prisioneiro. Ambos destinados a seguir caminhos diferentes em um reino onde um homem belo é louvado como herói, enquanto seu enigmático assistente trabalha nos bastidores para sustentá-lo..."
A trama de Tales of the Kingdom gira em torno desses dois personagens centrais — Adarte e Adolte — que, embora compartilhem origens entrelaçadas, trilham rumos contrastantes dentro das estruturas políticas, sociais e emocionais de um reino ficcional.
A história alterna entre capítulos focados em episódios isolados do passado e do presente de diversos personagens do reino, sempre com uma linguagem poética, melancólica e visualmente simbólica. Trata-se menos de uma narrativa linear e mais de uma colagem de momentos, reflexões e dilemas morais, característica marcante da obra de Nakamura.
Tales of the Kingdom foi lançado originalmente em abril de 2017, na revista Ultra Jump, da editora Shueisha — conhecida por títulos que variam do shonen mais tradicional até obras experimentais voltadas a públicos mais maduros. Desde então, a série foi sendo publicada de forma periódica, com pausas ocasionais, mas sempre mantendo o padrão de qualidade visual e textual que marca o trabalho de Nakamura.
A editora Shueisha lançou o quinto volume compilado em janeiro de 2024, e a versão em inglês, pela Yen Press, chegou às lojas em 17 de setembro do mesmo ano. Com o final confirmado, espera-se que o sexto e último volume seja lançado logo após a publicação do capítulo derradeiro, encerrando assim a coleção em formato físico e digital.
O mangá é bastante apreciado por sua arte altamente estilizada — com traços longos, composições elegantes e ambientações que evocam tanto palácios barrocos quanto paisagens desoladas — além de sua habilidade de tratar temas como poder, sacrifício, identidade e amor sob camadas de simbolismo e subtexto.
A autora Asumiko Nakamura é uma das artistas mais respeitadas do cenário contemporâneo dos mangás alternativos e de nicho. Ela é amplamente conhecida por obras como Classmates (Doukyuusei), que retrata com sensibilidade histórias de amor entre jovens do ensino médio, e outras produções mais adultas e experimentais, como Utsubora.
O trabalho de Nakamura costuma ir além dos limites de gênero e público-alvo tradicional. Combinando delicadeza visual com roteiros existencialistas, ela cria narrativas que desafiam a linearidade e exploram a psique dos personagens com profundidade emocional e estilística.
Em Tales of the Kingdom, Nakamura experimentou com a estrutura de contos interconectados, onde cada capítulo revela um novo fragmento do mundo, aprofundando os personagens aos poucos, como se desfolhasse uma flor camada por camada. A sensação é de que estamos lendo uma crônica de mitos ou lendas esquecidas — e esse efeito literário é um dos grandes triunfos da série.
O cerne de Tales of the Kingdom está na dualidade entre Adarte e Adolte, os dois protagonistas centrais da história. Ambos são símbolos vivos de opostos complementares:
Essa relação, por vezes tênue, entre adoração pública e escuridão íntima, é um dos temas recorrentes da obra. Nakamura desenha essa polaridade com sensibilidade, sugerindo que, muitas vezes, os verdadeiros pilares de um sistema são invisíveis — ou indesejados — aos olhos da sociedade.
Ao longo dos cinco volumes publicados, Nakamura estrutura a história de forma não linear, por meio de capítulos quase independentes que retratam:
Em vez de seguir um arco tradicional com começo, meio e fim, Tales of the Kingdom se apresenta como uma série de ecos emocionais — cada capítulo é uma janela para uma vida, uma decisão, uma perda ou um desejo não correspondido. Essa estrutura dá à obra um caráter lírico e contemplativo, convidando o leitor à introspecção.
O mangá também se destaca pela sua ambiguidade narrativa. A autora raramente entrega respostas prontas, preferindo sugerir por meio de metáforas visuais e diálogos elípticos, o que amplia o impacto emocional e convida a múltiplas interpretações.
A confirmação do final da obra não é necessariamente uma surpresa, já que a progressão dos últimos capítulos sugeria uma aproximação do clímax. No entanto, para os leitores fiéis, o anúncio deixa um gosto agridoce: é o fim de uma jornada intensa, mas também a culminância de uma obra que já disse muito com tão pouco.
Com o último capítulo marcado para 19 de novembro de 2025, os fãs agora aguardam ansiosamente para saber como Nakamura encerrará a trajetória de Adarte, Adolte e os tantos personagens que habitaram esse reino complexo e encantador.
Será um fim trágico? Redentor? Ambíguo? Provavelmente, será tudo isso ao mesmo tempo — como sempre foram as histórias de Nakamura.
Tales of the Kingdom é uma obra que transcende as convenções dos mangás de fantasia. Nas mãos de Asumiko Nakamura, o gênero ganha camadas de lirismo, crítica social e intimidade psicológica, tornando-se uma verdadeira tapeçaria emocional sobre poder, sacrifício, desigualdade e amor.
A relação entre Adarte e Adolte, assim como as histórias paralelas que compõem o reino, não são apenas sobre heróis e vilões, luz e sombra. Elas são sobre humanidade em estado bruto — sobre o que nos move, o que escondemos e o que estamos dispostos a fazer por aquilo em que acreditamos.
Com uma arte inconfundível e narrativa intimista, Nakamura criou uma obra que permanecerá relevante muito além de seu capítulo final. A maneira como ela desconstrói o heroísmo e dá voz àqueles que vivem nas margens do poder é o que transforma Tales of the Kingdom em algo memorável.
À medida que a série se encerra, resta ao público agradecer por uma experiência de leitura tão única. Tales of the Kingdom é mais do que uma história sobre um reino distante — é uma reflexão sobre os próprios reinos que habitamos dentro de nós. E, como toda boa fábula, seu eco continuará a ressoar no coração dos leitores por muito tempo.
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